Era um dia despindo-se do ocaso,
em absinto tragado, sem doesto,
seguindo o alvedrio dos justos.
Era o mar dentro da lua,
e dentro da noite o meu silêncio,
escutando os conselhos dos ventos...
Era o mar na escuridão,
retumbando nas areias debulhadas,
a memória das vozes lunares:
um horizonte adormecido,
em meu coração sub-locado,
nas ondas encontrava domicílio;
e as estrelas entristecidas,
em minhas veias afogadas,
constelavam-se em novo olhar.
Era o mar no infinito,
sem nuvens oblíquas e vultos distantes
- Era a vida dentro do mar!
E na revolução do tempo
um coração renascia das sombras,
da neve, da elegia, do silêncio...
Era o mar dentro da lua
tragando na escuridão um grito:
uma voz no infinito amanhecendo,
desvelando o segredo das monções,
o mistério de seu grande círculo:
inverte, no desencanto, a direção dos ventos!
Era a vida me confessando
que o mar presente nela
era o reflexo da minha esperança.
Lua, concha da minha aurora,
mergulha nas águas, nas brancas espumas
a face vazia da minha imagem,
Cobrindo este amanho de lágrimas
com a túnica dos girassóis,
no transe de um monge dervixe.
Nélio Silvério
III Recital de Poesia, 25 de agosto de 2011.