Ainda guardo um pouco da alegria vestida de vento,
no balanço lento , de um dia que não se vai....
Imersos num tempo sem rupturas,
com palavras nascidas da fonte inconsútil
que unem gota de mar e outra de orvalho.
Éramos faces desconhecidas,
banhadas pela brisa dos hemisférios,
a caminhar pelo arquipélago da poesia,
sem mão dupla e sem curvas.
Mas nossas luas crescem ao avesso
e por isso, os peixes rezavam um Terço,
para não nos esquecermos
daquilo que nos fez reencontrar:
Sermos aprendizes do mar!
E nossas vozes eram memória do Lácio
e alargavam o corpo das metáforas
molhadas e salgadas, animadas pelo vento,
pelo tempo, pela canção...
Ondas de versos bárbaros, livres,
brancos e matizados...
Tudo era uma tarde, que trazia a manhã
e as estrelas de uma noite de verão...
As estrofes eram nascentes, olhos d’agua,
descrevendo arco-íris por nossas mãos...
E eu diante da poesia, que mais uma vez renascia,
depois de tantas dúzias de primavera.
E os peixes para nós diziam:
a baixa das águas ensina o caminho do desapego;
a plenitude das marés, a potência das virtudes;
o silêncio do mar é a voz do infinito;
e as correntezas são os ciclos concêntricos,
na imensidão exígua de quem nasce e morre.
E logo pensei no Manfred amigo,
em sua noite ferida;
distante das águas, do mar...
No silêncio da vida...
Sinto suas lágrimas sofridas,
que molham a fantasia de mendigo,
revivendo o retorno de Ulisses,
na conquista do seu reino!
E os peixes concluíram a lição:
passam os homens, permanecem as ondas;
nascem feridas, dançam as espumas...
E as palavras se vestem de arrebol,
sempre estreando no coração da vida,
pois há homens que traduzem palavras,
outros há, que revelam a alma
de quem ama e vive o intraduzível.
Salvador, 28 de janeiro de 2012
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